O imunizante ficou no centro de uma disputa política entre Bolsonaro e governador de São Paulo, João Doria, responsável pelo acordo que trouxe a vacina para o Brasil.
Ignorando o que dizem autoridades
de saúde em todo o mundo, inclusive a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a insistir no
"tratamento precoce" contra a Covid-19.
"Não desistam do tratamento
precoce. Não desistam, tá? A vacina é para quem não pegou ainda. E esta vacina
que está aí é 50% de eficácia. Ou seja, se jogar uma moedinha para cima, é 50%
de eficácia. Então, está liberada a aplicação no Brasil", disse Bolsonaro
a apoiadores em vídeo compartilhado pelo vereador Carlos Bolsonaro
(Republicanos-RJ) em seu canal no Telegram, aplicativo de mensagens que virou
queridinho da direita nos últimos dias.
Um de seus apoiadores perguntou
ao presidente se a vacina seria obrigatória. Bolsonaro pôs em dúvida a
eficiência da Coronavac, vacina que está sendo utilizada no início da
imunização no Brasil e que, junto com a vacina de Oxford, teve uso emergencial
autorizado pela Anvisa no domingo (17).
"No que depender de mim, não
será obrigatória. É uma vacina emergencial, 50% de eficácia. É algo que ninguém
sabe ainda se teremos efeitos colaterais ou não", afirmou.
Veja 10 vezes que a CoronaVac foi alvo de ataques do presidente Jair
Bolsonaro.
1- 'Não é daquele outro país'
Se fala muito da vacina da Covid-19. Nós
entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e
100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok,
pessoal? É de Oxford aí — disse o presidente.
Bolsonaro disse a frase acima em
julho, durante uma transmissão ao vivo.
2- 'Diferente daquela outra'
Em agosto, durante uma cerimônia
no Palácio do Planalto, voltou a exaltar o acordo da Fiocruz e minimizar o do
Butantan, dizendo que o primeiro envolvia a transferência de tecnologia:
E o que é mais importante nessa vacina,
diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, vem
a tecnologia pra nós.
3- 'Não será comprada'
O tom subiu em outubro, quando o
ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo para a compra de 46
milhões de doses da CoronaVac. No dia seguinte, em um comentário no Facebook,
Bolsonaro chamou o imunizante de "vacina chinesa de João Doria" e afirmou
que não seria comprado.
4- 'Mandei cancelar'
No mesmo dia, durante evento em
São Paulo, reforçou que havia mandado cancelar o acordo.
“Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não
abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro.
Para prestigiar Pazuello, que
havia sido desautorizado publicamente, o presidente visitou o ministro, que na
época estava infectado com a Covid-19. Pazuello minimizou o desentendimento e
disse que "um manda, o outro obedece".
5- 'Descrédito muito grande'
A da China nós não compraremos, é decisão
minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população
— disse. — A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por
parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por
lá.
6 - 'Procura outro para pagar'
“Ninguém vai tomar a sua vacina
na marra não, tá ok? Procura outro. E eu, que sou governo, o dinheiro não é
meu, é do povo, não vai comprar a vacina também não, tá ok? Procura outro para
pagar a tua vacina aí”, disse Bolsonaro dirigindo-se a Doria, durante uma
transmissão e disse a ele para procurar "outro para pagar a tua
vacina"
7- 'Mais uma que Jair Bolsonaro ganha'
Em novembro, a disputa política
continuou e Bolsonaro chegou a comemorar quando os testes da CoronaVac no
Brasil foram suspensos, após a morte de um dos voluntários. Mesmo sem detalhes
sobre a circunstância da morte — a Anvisa posteriormente concluiu que não havia
relação com os testes —, Bolsonaro afirmou que a vacina poderia causar "morte,
invalidez, anomalia" e disse que era uma vitória sua.
"Morte, invalidez, anomalia.
Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O
Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair
Bolsonaro ganha", escreveu.
8 - 'Eficácia lá embaixo'
Com a conclusão do testes, em
dezembro, o alvo do presidente passou a ser a eficácia da vacina. Antes do
Instituto Butantan divulgar os dados, Bolsonaro afirmou, em uma transmissão,
que "a eficácia daquela vacina em São Paulo parece que está lá
embaixo".
9 - 'Essa de 50% uma boa?'
Em janeiro, mesmo após o
Ministério da Saúde ter assinado um contrato de compra da CoronaVac, Bolsonaro
seguiu o ironizando o imunizante. Depois do Instituto Butantan divulgar que a
taxa de eficácia era de 50,38%, o presidente disse a um apoiador:
Essa de 50% é uma boa?
10 - 'Baixa taxa de sucesso'
Na sexta-feira, minutos antes do
Ministério da Saúde requisitar ao governo de São Paulo todas as doses da
CoronaVac, o presidente afirmou em uma entrevista que João Doria estava
"desmoralizado pela baixa taxa de sucesso na sua vacina".
Após a aprovação da CoronaVac
pela Anvisa e o início da vacinação em São Paulo, no domingo, Bolsonaro ainda
não se pronunciou.